sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Quebrando mitos verdes

Caminhar contribui mais para o aquecimento global do que dirigir. É o que
aponta um estudo de um importante ambientalista britânico.

Atualmente é necessária tanta energia na produção de alimentos que mais carbono é emitido para fornecer calorias suficientes para uma pessoa caminhar às compras do que um carro emite ao percorrer a mesma distância. Haveria mais benefícios para o clima se as pessoas evitassem o exercício, comessem menos e ficassem deitadas no sofá o tempo todo. Desde que, naturalmente, não esqueçam de desligar a tevê ao invés de deixá-la em standby.

As contas foram feitas por Chris Goodall, autor de "How to live a low-carbon life, baseadas nos gases-estufa emitidos pela produção intensiva de carne bovina. "Dirigir um carro britânico típico por 4,8km emite aproximadamente 900g de dióxido de carbono à atmosfera" disse Goodall, um cálculo baseado nas taxas oficiais do Governo. "Se você preferisse ir andando usaria aproximadamente 180 calorias. Você precisaria de 100g de carne bovina para repor aquelas calorias, resultando em 3,6kg de emissões de dióxido de carbono, ou quatro vezes mais do que emitiria dirigindo”.

“O problema é o fato de que fazer muito exercício e depois comer um pouco mais não é bom para a atmosfera. Comer menos e dirigir para poupar energia seria bem melhor."

Goodall, candidato do Partido Verde para o parlamento de Oxford West & Abingdon, é o último pensador sério que aceitaria mitos populares sobre o meio ambiente. Pesquisas recentes publicadas em julho passado na New Scientist sugeriram que um quilo de carne custa ao planeta 36kg em gases-estufa. Os números são baseados nos métodos japoneses de produção industrial de carne, mas Goodall diz que as técnicas de manejo são similares em todo o ocidente. E se, ao invés de comer carne, o andarilho bebesse leite? Uma pessoa média precisaria beber 420ml para recuperar as calorias usadas na caminhada. Técnicas modernas de produção de leite emitem o equivalente a 1,2kg de dióxido de carbono para produzir essa quantidade de leite, ainda assim mais
poluição do que a viagem de carro.

A criação de gado bovino também é notoriamente danosa ao ambiente, baseado no que os cientistas polidamente chamam de "produção de metano" das vacas. O gás, liberado durante o processo digestivo, é 21 vezes mais prejudicial do que o dióxido de carbono. E a carne orgânica é a mais prejudicial porque o gado orgânico emite mais gás metano.

Michael O'Leary, diretor de finanças da companhia aérea Ryanair, tem sido amplamente ridicularizado depois que declarou que o aquecimento global poderia ser resolvido através do sacrifício do gado mundial. "Pela forma que ele sai por aí dizendo às pessoas que elas deveriam atirar em vacas," Lawrence Hunt, diretor da Silverjet, outra empresa de aviação, disse ao Commons Environmental Audit Committee. "Eu não acho que você pode debater de verdade com alguém com essa mentalidade."

Mas de acordo com Goodall, O'Leary pode estar certo em um ponto. "Comida é mais importante [para as emissões de gases-estufa na Grã Bretanha] do que um avião, mas não há nenhuma publicidade em torno disso" disse. "A Associated British Foods não está sendo questionada pelos membros do Parlamento sobre energia".

“Nós precisamos nos acostumar com a idéia de que nossos sistemas de produção de comida são igualmente prejudiciais. Como o homem da Ryanair diz, as vacas geram mais gases-estufa do que um avião. Infelizmente, talvez, ele esteja certo. É claro que isto não significa que nós devemos sempre usar o avião ou o carro em vez de andar. Significa que nós precisamos urgentemente desenvolver uma forma de reduzir o volume de gases-estufa ligados aos gêneros alimentícios".

Simplesmente deixar de comer bife, ou mesmo eliminar toda carne bovina, entretanto, seria uma mudança modesta demais. Estima-se que a indústria de alimentos seja responsável por um sexto das emissões de carbono, e a Grã-Bretanha pode ser a maior culpada.

"Isto não é somente sobre trazer feijões de avião do Quênia no inverno," disse Goodall. "Todo o sistema é repleto de energia e de emissões de nitratos. O Reino Unido é provavelmente o pior país do mundo neste sentido.

"Nós industrializamos nossa produção de alimentos. Comparando com outros países, nós usamos uma quantidade enorme de alimento processado, como as refeições prontas. Três quartos da energia dos supermercados são para refrigerar e congelar alimentos que foram preparados em outro lugar.

"Um prato congelado é um exemplo perfeito de como a energia é desperdiçada. Você prepara a refeição, a seguir usa uma quantidade enorme de energia para congelá-la e mantê-la estocada em frigoríficos."

A dieta ideal consistiria em cereais e legumes. "Este é um caminho que virtualmente ninguém, senão um vegetariano, irá seguir" diz Goodall. Mas há outras maneiras reduzir a emissão do carbono. "Não compre nada no supermercado", completa, "ou qualquer coisa que tenha vindo de longe."

Derrubando os grandes mitos verdes:

— Um estudo da agência ambiental da Grã-Bretanha descobriu que as fraldas tradicionais são tão ruins quanto as de materiais descartáveis. Enquanto as fraldas descartáveis representam cerca de 0,1% do volume total de lixo nos aterros sanitários, as fraldas de tecido consomem energia, água limpa e detergente.

— Sacolas de plástico causa mais aquecimento global do que as de plástico. Elas necessitam de muito mais espaço para armazenagem e requerem energia extra para o transporte do fabricante às lojas.

— Os trens a diesel da Grã-Bretanha rural poluem mais do que os veículos 4×4. Quando era secretário dos transportes, Douglas Alexander disse: "Se 10 pessoas viajarem em um Sprinter [trem], seria menos danoso ao meio ambiente dar a cada uma delas um Land Rover Freelander e mandá-las dirigir".

— O Departamento Britânico para Assuntos Ambientais, Rurais e de Abastecimento descobriu que queimar madeira como combustível é melhor para o meio ambiente do que sua reciclagem.

— As vacas leiteiras "orgânicas" são piores para o clima. Por produzirem menos leite as suas emissões de metano por litro são mais elevadas.

— Quem usa uma lâmpada ecológica acaba desperdiçando a energia economizada durante um ano com o uso ao comprar dois sacos de vegetais importados, dada a quantidade de carbono desperdiçada para o transporte desses vegetais até a Grã-Bretanha.

— Pesquisadores alemães descobriram que as árvores, consideradas protetoras contra o aquecimento global por absorverem carbono, são as principais produtoras de metano, um gás-estufa muito mais prejudicial.


Fontes: Defra; How to Live a Low-Carbon Life (Como viver uma vida com pouco
carbono), por Chris Goodall; Absorbent Hygiene Products Manufacturers
Association; The Times; BBC.

Contribuição: Tonhão Rebelo

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